A Partida
- Katia Kristina
- 19 de out. de 2016
- 7 min de leitura
Palavra do Autor
Ao longo da segunda metade do século XIX e no século XX imigrantes italianos deslocaram-se para o Brasil para o trabalho na lavoura do café. Chegaram ao Brasil a partir de 1875, vindos principalmente do norte, estabelecendo-se, primeiramente, no Rio Grande do Sul, na região serrana em Santa Catarina e, posteriormente, espalhou-se por todo Brasil . Com a introdução de novas técnicas originaram centros industriais metalúrgicos, têxteis, vinícolas e de couro que até hoje caracterizam a região. o italiano reunia as duas condições de imigração mais valorizadas por autoridades públicas, por intelectuais e por empresários privados. A proximidade da língua, religião e costumes, fez o imigrante italiano mais facilmente assimilável por nossa sociedade do que os alemães ou japoneses, por exemplo; além disto, correspondeu aos ideais de branqueamento de nossa população, acreditado como desejável para que nos tornássemos mais "civilizados" diante de nossos próprios olhos e aos olhos do mundo.
Nos meados de 1966 veio morar no Brasil uma família de Italianos. Eram bastante pobres, mas eram muito felizes. O chefe da família Dom Franco de Angellis adorava o mar foi morar com sua família em uma cidade chamada Muriqui, uma cidade litorânea que naquele tempo quase não tinha moradores, para avistar uma casa precisava andar dois quilômetros. Dom Franco tinha dois filhos Piero e Eros D’Angelis. Piero queria estudar química nuclear. Mas as Universidades eram muito caras. Mas Piero não desistia da sua vocação. Ele dizia que como químico nuclear, poderia controlar as radiações e as partículas gama, beta, alfa, e a radiação que geralmente é ionizante e causa a morte, mutações genéticas, em longo prazo ou morte por câncer, que também são hereditárias causando deformações aos filhos dos sobreviventes. O outro filho Eros D’Angellis, era boa-vida, gostava de “sombra e água fresca”. D. Franco era ferroviário, trabalhava na Rede Ferroviária Central do Brasil como maquinista. Piero estudava e entregava jornais para ajudar a comprar seu material didático. Sua mãe Dona Florenza fazia "una pasta deliziosa" para vender e complementar as despesas podendo assim, ajudar ao filho com a vindoura universidade. Com 17 anos Piero terminou com muito esforço e cansaço o colegial, com toda dificuldade que o idioma lhe trazia. Foi difícil aprender o português, porque Piero não tinha tempo para estudar linguas. Trabalhava em todas as suas “horas vagas” entregando jornais, limpando jardins, fazendo todo tipo de bico possível para aumentar seu salário enquanto Eros esbaldava e perdia no jogo de azar. No primeiro vestibular Piero não consegui notas para ingressar na faculdade, foi uma decepção para ele que queria muito ajudar seus pais. Nesse ano ele conseguiu um emprego de estivador, pois era bastante forte e bem apanhado. Mas precisou parar de trabalhar para servir ao Exército. Serviu os nove meses a que são designados e reengajou. No quartel fez diversos cursos entre eles o curso de inglês, de bombeiro hidráulico, tirou carta de motorista. Ao fim de três anos deu baixa e foi chamado para trabalhar na Usina Nuclear de Angras dos Reis como Vigilate. (só trabalha na Usina quem serve a Pátria). Piero mudou com a família pra Parati na Vila Operária. Quem era funcionário da Usina ganhava moradia, não pagava água, gás e energia elétrica, o que era uma grande ajuda nas despesas da família. Piero continuava esforçado e muito atento a tudo, sem perder a grande vontade de ser um químico nuclear. Ele como vigilante tinha a incumbência de acompanhar os visitantes de outros países que vinha a Usina. Até que certo dia, uns visitantes árabes e indianos estiveram na Verolme e gostaram do jeito esforçado de Piero que não deixava faltar nada aos estrangeiros e nem os deixava leigo a nada. Um deles de nome Jayanti Chamou Piero para trabalhar na usina nuclear em Nova Delhi (Deli) Mas para isso precisaria estar ingressado em uma faculdade de química.
A oportunidade de sua vida! Piero foi para casa dizer a sua família que partiria para Índia... Susto...
- Como assim meu filho? Ir embora sem conhecer ninguém, sem saber o idioma? Você não está de noivado marcado? Érica já sabe sobre a sua viajem?
- Não pai! Vou hoje a casa dela e direi.
- Está bem meu filho! Se for o que você quer, que seja feito! Quando você voltar vamos ver o que faremos por sua viagem.
Piero foi à casa de Érica para lhe dar a notícia, estava um pouco receoso sobre qual seria a reação da moça ao ficar longe dele. Quando chegou, tinham feito um jantar especial. Piero ficou sem graça, pois nem estava bem vestido para um jantar especial, não levou o vinho. (o que é da natureza italiana quando vai a casa de alguem cear. Mas seus sogros estavam felizes e lhe disseram que não precisava que queriam mesmo que fosse surpresa.
= Surpresa?
Perguntou Piero.
- Sim meu filho! Temos uma noticia boa! Embora um pouco fora de hora, mas para mim que você sabe não tenho muito tempo de vida é o máximo!
Piero ficou assustado com essa conversa. Sabe que seu sogro tem câncer terminal e esta conversa o assusta ele gostaria muito que conseguissem encontrar logo a cura para as células das metástases.
= Está bem, então digam logo!
Érica entrou e trouxe uma caixinha amarrada com dois barbantinhos um azul e o outro rosa e entregou a Pierre. E disse.
- Abra e veja o que tem ai dentro!
Piero curioso começou a desamarrar a caixinha, desamarrou o barbantinho rosa primeiro. Todos gritaram entusiasmados eeeeeeeeeeeeh é MENINA!!!! Assustando o rapaz que não esperava tal reação. Parou imediatamente de desamarrar e exclamou:
= Menina?
Deu um sorriso amarelo...
= Como assim, menina? Estãao falando de que?
- Ora Piero você vai ser pai de uma menina.
O rapaz na mesma hora soltou sem pensar um NÃO!!! Silêncio na sala! Ficaram olhando-se enquanto Piero com as mãos na cabeça, de cabeça baixa dizia umas palavras que ninguém entendia.
- O que foi Piero? Não gostou da ideia de ser pai?
Perguntou a mãe Érica. Piero levantou a cabeça e disse quase sem voz:
= Não é isso! Eu também vim contar uma coisa que agora perdeu o sentido.
- Perdeu o sentido? Por causa da gravidez da Érica? Como assim? Explica isso.
= Deixa pra lá vamos comemorar o fato de Érica estar grávida.
Os sogros de Piero foram pegar o vinho para a comemoração, mas Érica que é uma mulher forte e decidida pediu que parassem com tudo. Ante a surpresa e a decepção dos pais ela chegou perto de Piero que continuava pensativo e falou calmamente:
- Piero! Levante a cabeça e me conte agora o que está acontecendo?
= Não tenho nada para contar querida! Pode deixar, nada é mais importante que nosso bebê..
- Não senhor! Vai me dizer agora! Sabe que não gosto que me esconda algo tão importante assim.
= Como sabe que é importante?
- Pois é, como você sabe filha?
Perguntou o Senhor Romildo o pai de Érica. Ela respondeu convicta:
- Pai não notou a decepção de Piero ao saber da gravidez?
= Não foi decepção querida.
- Piero foi qualquer coisa menos alegria. Então trate de me contar agora, já estou ficando nervosa.
- Está bem Érica! Vou contar! Mas o que eu disser não tem mais importância para mim ouviu?
Érica não responde continua com os braços cruzados esperando Piero "desembuxar"
= Estiveram hoje pela manhã na Usina alguns químicos estrangeiros e me chamaram para trabalhar com eles diretamente com os componentes químicos. O meu desejo estaria sendo realizado.
- E por que não estaria mais?
= Porque eu teria que ir para Índia, a Usina nuclear é em Nova Delhi!
Érica se afastou de Piero, foi até a janela em silêncio, ficou olhando para fora com a mão na boca procurando o que falar e como falar. Piero foi até ela para acalmá-la.
- Calma meu bem! Eu não irei! Não precisa ficar assim eu...
Antes que terminasse sua frase Érica retrucou-o.
- Como assim não vai? Você vai e eu vou com você! Não diga nada! – Pai você nos ajuda? Precisamos comprar passagens levar um dinheiro para começar a vida. Móveis não precisam no começo...
= Érica! Calma meu bem! Eu não vou!
- Por quê?
= Porque sou um homem responsável! Vou precisar ingressar em uma faculdade de química. E eu não conseguirei pagar os estudos estando com a minha família para criar.
- Eu posso te ajudar Piero!
= Amor você está grávida!
- Piero estou grávida, não doente e posso fazer várias coisas para não ficar pesado o orçamento. Não perca essa oportunidade. Eu me sentirei muito mal e nossa vida será um inferno! Pensar que você não seguiu sua tão almejada carreira por minha causa. Não Piero nós vamos! Pode dizer aos químicos que você aceita.
= Você está de quanto tempo Érica?
- Vão fazer dois meses. Quanto tempo eles irão esperar?
= O tempo de arrumarmos os passaportes e tudo o mais para viajem.
Nisso senhor Romildo pede a palavra.
-Sim papai pode dizer o que pensa.
- Primeiramente, que eu quero ver minha neta o quanto antes. E depois, que eu posso ajudar. Tenho o dinheiro da minha aposentadoria no banco e emprestarei a vocês.
= Mas senhor...
- Cale-se Piero! A palavra é minha. Pois bem fazendo a conversão para dólares dá para vocês viverem por uns seis meses, o que você receber na empresa investe na faculdade. Paga com adiantamento faça o que for possível para que quando esse dinheiro terminar você já esteja estabelecido e possa continuar a vida. Tem mais! Não aceito não como resposta. São minha filha e minha neta e quero o melhor possível para elas.
= Obrigado Senhor! Meus pais também irão ajudar no que puder.
- Então comecemos amanhã a preparar tudo.
Tiveram que esperar mais de um mês para que ficassem prontos os passaportes, enquanto isso Érica pegou uma encomenda de envelopes e conseguiu mais 3000 fazendo mala fechada para advogados. Érica passava dia e noite escrevendo em sua Olivetti, uma máquina de escrever que era seu xodó. Até o dia em que tudo ficou pronto! D. Franco conseguiu com um amigo que Piero fosse ingressado na faculdade no Brasil e transferido para Nova Deli como bolsista. O que foi de grande ajuda. Teve um desconto de 35% nas mensalidades. Mas o material didático precisou ser comprado sem restrição. Partiram deixando os pais no aeroporto saudosos mais felizes com seus filhos....
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